sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Podia ser melhor.

25-11-1852
Completávamos nove meses de amizade naquele dia. E eu estava decidido a pedi-lá em namoro, estava certo que ela nunca recusaria. Afinal, eu era apaixonado. Eu a via nos meus sonhos. A imaginava 24h por dia. E nada nesse mundo me tiraria ela da cabeça.
Nos encontramos em uma praça. Ela veio com um vestido curto branco de seda leve, e os cabelos castanhos soltos. Eu estava sentado esperando que ela chegasse mais perto de mim, e ela veio, veio, veio e passou reto. Nem me viu! Meus olhos estavam enormes, e minha boca escancarada, meu coração batia? Não sei, não sentia.  Olhei para trás pra ver aonde ela tinha ido, e ela tinha ido sentar-se com um outro rapaz. Prefiro não fazer descrições de homens. Mas ela, como um anjo, e um jeito tão inocente no rosto, parecia nem se lembrar de mim. Eu levantei, fui até ela indignado. Parei na sua frente, mas ela nem me olhou. Continuou a falar com aquele homem sem me notar, chamei por seu nome, mas se fez de surda, gritei mais alto, mas nada que eu fizesse adiantaria. Corri em prantos para minha casa, aonde era o único lugar aonde eu me sentia bem. Atirei-me na cama e não chorei, não senti vontade, não estava magoado, estava com raiva. Fiquei aproximadamente umas 3 horas sentado na beira da cama, até decidir sair do quarto. Fui para as ruas me distrair, parei na frente de uma banca e olhei um jornal, chamei o vendedor mas ele não me escutou, chamei mais alto, mas ele só podia ser surdo. Irritado e com medo de me descontrolar, analisei o jornal só a capa mesmo, e vi que tinha algo diferente.
Era dia 27-11-1852. Não era dia 25. O jornal só podia estar adiantado. Mas eu nunca tinha visto um jornal adiantado. Fui pegar o jornal mesmo sem o vendedor me escutar e minhas mãos ultrapassaram ele. Ã? Sim, minhas mãos não pegaram o jornal, passaram por ele como se eu fosse um fantasma, voltei correndo pra casa e fui pra cozinha, em cima, tinha um jornal do dia 25. E bem grande na capa uma machete: ASSALTO EM PRAÇA PUBLICA MATA JOVEM. Mais embaixo, todos os detalhes, dois homens, uma faca, um jovem, um roubo, dois mortos. Um dos assaltantes, e o garoto. Meu nome estava destacado em negrito na manchete. E era impossível acreditar. Eu? Morto? Então como estava ali? Porque não tinha morrido de verdade? Porque nao estava no céu como todos dizem?

Um espírito só fica na Terra quando algo muito forte o prende.
E eu estava condenado pelo meu amor.
A viver com ela por todas as gerações.

- Texto a pedidos de Neemias Becker.

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