domingo, 30 de janeiro de 2011

Prazer, eu sou a morte.

Acostumada a esperar o namorado todo dia as três da tarde na frente do portão, Caroline ficava escorada no muro com sua mochila sempre pesada, carregando o dobro do necessário. Mas como toda mulher prevenida, ela não remedia esforços. Carregava todos os livros se fosse preciso. O namoro de sete meses ia cada vez melhor. Naquela tarde ocorreu tudo como previsto. Caroline ficou escorada no muro, Fred chegou, pegou as coisas dela como um gentil cavalheiro, e os dois foram de mãos dadas ate o portão da escola dela. No portão o seu Pedro cumprimentou ambos, e liberou a entrada dos dois. Caroline entrou, largou a mochila em um banco, deu um beijo sem graça e de despedida no namorado e ele se foi.
A única coisa, é que Caroline não sabia que aquele seria seu ultimo beijo, nele.
Era cinco da tarde, intervalo dos terceiros anos do ensino médio na escola de Caroline. Ela estava sentada embaixo da arvore, como de costume, lendo seu livro interminável. O vento soprava lentamente, fazendo seus cabelos ruivos voarem contra seu rosto, chicoteando-o cor de pêssego. Ela se moveu lentamente, e tirou do pulso uma borrachinha de cabelo para amarrar suas madeixas em um rabo de cavalo. Ao largar o livro no chão para se concentrar no penteado, papeis que estavam guardados dentro do livro voaram em direção ao pátio. Anotações que nem mesmo Caroline se lembrava fazer, mas sabia muito bem de que época era.
•••
Fazia quase dois anos atrás, e ela mal se lembrava daquele olho castanho escuro, o cabelo preto escondido debaixo do boné virado pra traz. O sorriso perfeito e a voz grossa. Uma fase nada agradável para sua memória.  No dia em que se conheceram ela usava uma blusa verde simples, com uma flor do lado. Ele, uma camisa roxa. A Mao não saia de sua cintura, e a segurava com uma segurança, e um medo de perde-la, que parecia não solta-la mais. Não tinha como esquecê-lo. Não tinha como esquecer aquele olhar, aquele toque, aquele beijo. Um amor pouco reconhecível aos olhos de todos, pois Caroline não era de demonstrar sentimentos, ela os guardava para si, o que era muito pior. Mas isso não vinha ao caso. O fato era que ela o amava tanto que seria capaz de se matar por ele. Mas nem com os olhos ela conseguia mostrar isso. E ele acabou achando que ela não gostava dele. Muito orgulhosa ela nao fez questão de continuar. Mas ai estava o problema. Dois dias depois, Caroline estava tão mal que não conseguia nem falar. Tudo o que ela falava era sobre ele, tudo que ela lembrava era dele. As lagrimas que ensopavam seu travesseiro, cada uma delas, trazia a lembrança dele. Cada momento que os dois passaram juntos. Os meses que se falaram a distancia. A amizade que antes de tudo começar reinou entre eles.   Em uma tarde qualquer, como outra, Caroline falava com ele pelo MSN, ela percebeu a tensão que estava a conversa, e ele digitou algo tão frio e tão rápido, que ela não acreditou que pudesse ser o mesmo garoto que ela conhecia a 4 meses. Ela passou os olhos correndo por cima das palavras, que estavam tão sem alma, que o coração dela parou por dois segundos. Até ela pode raciocinar direito e sair do estado de choque. Ele estava terminando com ela por MSN! Que cara de pau. Caroline simplesmente não se mostrou comovida, concordou com tudo. E foi aí seu erro. Talvez se ela tivesse insistido um pouco mais, tivesse pedido um pouco mais de tempo, tivesse dito que o amava. Nada disso teria acontecido, e hoje os dois talvez poderiam estar juntos, e ela não ser a pessoa que é.  Nunca mais. Nunca mais nenhum dos dois se falou. Se viu. Se ligou.
Nada mais.
                                                                           • • •
Dois anos e sete meses se passaram.
As anotações e os desabafos que ela tinha feito nessa época estavam dentro do seu livro. O nome dele escrito nas folhas rabiscadas, foram arrancadas e postas dentro deste livro.
Elas voaram.
As folhas e as palavras voaram soltas no ar.
Caroline se sentiu tão exposta tudo aquilo, que parecia que todos mesmo de longe e com sua letra minúscula podiam ler o que estava escrito.
As folhas pararam em pés desconhecidos.
Ele se abaixou e juntou as folhas.
As entregou nas mãos dela, sem a olhar nos olhos.
Caroline olhava para aquelas mãos quente que tinham tocado sua pele. A mão macia e com um toque leve.
Os dois se olharam nos olhos sem dar um sorriso. Ambos sérios. Apesar das feições perfeitas, mesmo serio ele continuava lindo.
Caroline pegou as folhas com tanta força que com um toque só as amassou de uma vez. Fitou aquele olho castanho tão de perto depois de tanto tempo de um modo que achou que nunca mais iria ver. Escutou aquela voz grossa mais uma vez, achando que para ele tinha ficado surda. Seus rostos ficaram tão próximos, que dava para sentir a pulsação de ambos de longe. O sangue fugiu do rosto de Caroline, e ele soltou um sorriso conhecido para os olhos dela. Sua pele ficou quente e queimou todos seus nervos. Seu rosto baixou e a voz saiu em choque, “obrigada” disse ela tão baixo que mal se pode escutar. Deu as costas a ele rapidamente, e dava passadas largas em direção de volta a seu maldito livro que deixou escapar folhas que não eram para terem saído dali. Que se não tivessem saído dali, ela não teria tido um flash back do seu passado, e seu coração não teria aberto um buraco que tinha sido apenas cicatrizado pelo seu namorado Fred.
Em passadas longas, ela chegou rapidamente a arvore. Sentou-se no chão, pegou seu livro, e ao lado dentro de um lixo colocou as folhas amassadas. As mãos que tremiam e soavam ao mesmo tempo não tinham controle. Caroline sentiu um vazio por dentro tão forte, que ninguém poderia ser capaz de preencher. Lembrou dos primeiros tempos que ele deixou a marca nela, deixou aquele buraco. Olhando fixamente para frente, sem piscar, fitando o horizonte que ficava laranja, uma lagrima solitária escorreu do seu olho direito, ao se lembrar da vez em que se viram pela primeira vez. O frio na barriga daquela tarde a inundou. E outra lagrima rolou de seu olho direito. Nada se movia na sua frente. E uma mão quente e inesperada surgiu e limpou as duas lagrimas que lutavam para se manter paradas em sua bochecha. Ela olhou como um reflexo para o lado, para saber qual estranho se atreverá a tira-la do seu momento de lembranças.
Era ele.
Depois de tudo, ainda tinha coragem de vir sentar-se do lado dela, e enxugar suas lagrimas, que fora ele que causará. Mesmo sem saber.
Ela olhou sem reação para ele, esperou uma resposta. E sua mão se juntou a sua cintura, de um jeito que fazia mais uma vez outra lagrima escorrer de seu olho.
Ela afastou-se lentamente, o buraco abria cada vez mais perto dele. Ficava cada vez mais fundo e escuro, e se não saísse dali, talvez ele demorasse de mais para fechar novamente.     Sua voz veio perto de seus ouvidos e disse lentamente, “quanto tempo”. Caroline ainda não piscava seu coração ainda abria-se mais. Era demais responder a ele. Mas novamente ele insistiu, “oi Caroline, lembra-se de mim né?”. Como esquecê-lo? Um buraco marcado em seu peito, mesmo que ela quisesse aquele poço jamais sairia dali, e a marca ficaria eternamente. De cabeça baixa agora ela respondeu, “oi”.  Suas mãos pingavam de tanto suor, os olhos dela estavam fechados agora, a respiração presa. Para que não tivesse que sentir seu cheiro de novo.  Isso não era uma reação que talvez ele esperasse, mas também não era o momento que ela esperava vê-lo. Ele acariciou seu rosto devagar, sentindo cada centímetro de sua face. Passando a ponta dos dedos levemente, com os olhos fechados comparando o rosto daquela menina de dois anos atrás, e esta mulher. Um pequeno sorriso escapou de seus lábios, e percebeu-se a ironia. Ver o quanto ela tinha mudado, o quanto tinha evoluído. E ficado mulher. Caroline ainda não pensava por si, e deixava o sentimento a dominar. Até que o sinal do fim do intervalo tocou. Ela não pensou duas vezes, se levantou do chão e foi em direção a sua sala de aula, com os olhos ardendo para largarem lagrimas invisível, e forçando para não deixá-las cair.  Nas mãos, o vento soprava agora. O  livro havia sido esquecido embaixo da arvore, com aquela lembrança que não passava de uma lembrança. Por treze segundos ficou parada no corredor pensando se voltava ou não. Se voltava mais alguns minutos ao passado, ou se ia em direção ao futuro. E esquecesse tudo o que tinha passado.
Em frente.
Voltar ao passado não é uma das melhores escolhas, mesmo que nos traga os melhores momentos. E a sugestão não agradava a ela.
Entrou na sala e sentou-se na ultima classe. Se escorou nela, de cabeça baixa, e fechou os olhos, tentou esquecer os minutos que tinha passado nesse intervalo, e isso fez com que o buraco fechasse milímetros. Mas não fez ele fechar, ou cicatrizar-se como tinha sido antes.
Antes, ela nem se lembrava direito do rosto dele, não sentia seu cheiro, havia esquecido sua presença. 
A aula passou rápido demais, talvez tenha sido a angustia de saber se ele estaria ali ainda ou não. Era recém seis e vinte dois, Fred só vinha buscar ela as sete e trinta. Nesse meio tempo Caroline costumava sentar no portão e conversar com o seu Pedro. Mas não era seu Pedro que estava no portão dessa vez.
Por momentos seu coraçao bateu tão rápido, que tinha se esquecido da ferida, parecia que ela tinha marcado esse encontro, parecia que era o primeiro encontro dos dois novamente. Ele estava do outro lado da rua, e na sua mão esquerda, seu livro.
O coração dela bateu mais forte. Um sorriso queria nascer em seus lábios. E o amor parecia crescer novamente, o que não devia. Um gesto com a mão, a atraiu mais ainda. Ele estava a chamando. Caroline abaixou a cabeça para deixar que o sorriso saísse lentamente e ficasse escondido no meio de seus cabelos ruivos. Foi obrigada a levantar a cabeça para atravessar a rua. Seus olhos claros querendo enxer de lagrimas de alegria. Era uma alegria sem motivo, afinal aquele rosto só a trazia lembranças ruins, que a faziam sofrer. E nesse momento tudo tinha passado, parecia que nunca tinha acontecido nada entre eles e tudo estava para acontecer. No meio da rua. Ela parou.
Não moveu um pé se quer. Nem para frente. Nem para traz. As lembranças do passado voltaram, e as lagrimas de alegria se transformar em lagrimas de tristeza.
Ao olhar novamente para o lado dele, estava ela. Pendurada em sua mão. Com um sorriso triunfador. E um olhar mortal. O sorriso se transformou em um bico, e os lábios dos dois se juntaram em um só. Não sei se foi ilusão, ou talvez as lagrimas a deixaram cega, mas percebeste um leve empurrão da parte dele. Fazendo a garota estranha que estava o beijando ficar assustada e ir para trás. Quase caindo.
Mas não foi ilusão.
Ele tinha a empurrado sim. E estava vindo na direção de Caroline. Tudo parecia muito lento, os segundos levavam minutos, e um grito veio de dentro de sua boca, “CAROLINE!”. Disse ele antes de ela olhar pro lado.
Sem ainda se mover, ela estava no meio da rua. E um carro a mais de 100k/h estava vindo. Sem tempo se poder correr ou qualquer outra coisa, Caroline apenas fechou os olhos para não ter que ficar com a ultima imagem dele na sua cabeça. Quando morresse ela esperava qualquer cena, menos aquela. Alem disso, ela jamais imaginava encontrá-lo de novo.
O carro veio freando desde a dobra da rua, os pneus fizeram um eco estrondeante, e um barulho ensurdecedor ecoou nos ouvidos de todos que estavam parados.
Minutos de silencio.
Vozes, muitas vozes, nada faziam sentido, não podia enxergar direito. Mas visualizava vultos rápidos de mais, gritos, choros, e um corpo sobre si. Mal podendo ver, mas sentindo que era ele, ela  deu uma chance para que antes de morrer pudesse ficar com uma imagem boa dele. Não aquela de um garoto mesquinha que terminou um namoro por MSN. Nos olhos dele, tinham pequenas manchas de água, ou melhor, lagrimas, suas mãos estavam sujas de sangue, e não era preciso nenhum telepata para saber que ele estava com ódio e dor. Suas mãos não tinham um lugar certo para ficarem paradas, percorriam todo o corpo dela.
Pessoas mais do que deviam estavam todas paradas em volta dela, e ele chegou perto.
Ela fechou os olhos, e não conseguiu mais abrir. Por mais que quisesse, só tinha muito pouco tempo. Ele chegou mais perto, e ela foi sentindo seu cheiro forte. Seu toque macio na sua pele, e os lábios quentes dele nos seus. A voz rouca e devagar disse palavras que nem em sonho do mais perfeito príncipe teria dito, “ eu não queria que terminasse assim. Eu nunca deixei de pensar em ti”.
Com o maior esforço, Caroline conseguiu sorrir um pouco, e sentiu mais um vez, o toque suave dos lábios dele nos seus. Uma gota de lagrima caiu de seu rosto e pingou no dela. Mas não tinha mais tempo.
Eu tinha que levá-la.
Sobe meus braços, eu carregava uma alma silenciosa, que morreu da melhor maneira, literalmente. Se foi para outro lugar desconhecido, sem dor, sem ódio, sem remórcio, sem raiva. Só com amor, e saudade.
Sobe meus braços eu carreguei a mais pura alma. Caminhando, em um sentindo qualquer, sumindo aos poucos, eu fui deixando aqueles humanos deitados e debruçados, pedindo socorro, e chorando sobe um corpo que jamais voltará. Deixando de costas e sem olhar para trás, eu levei comigo o espírito.
Por cima de Caroline, ficou centenas de pessoas implorando a deus para que fizesse aquela garota tão jovem e que não tinha vivido nada voltar.
Era o que eles pensavam.
A missão daquela garota linda e jovem foi cumprida. Estava na hora de ela ir.
Com elas varias pessoas aprenderam, que não basta tentar apagar um passado que já foi vivido, que nao se pode inventar palavras que nunca foram ditas. E sim, que se tem que enfrentar tudo como é, e não inventar nada, não mentir em nada. Não importa o tempo que leve. Sempre achamos alguém que vai fazer aquele buraco ficar cicatrizado.
Como muitos me chamam.
Prazer, eu sou a morte.
-Texto de Gabriéli Minussi Giroldi 

2 comentários:

  1. Bah amr mt foda essa historia!!!

    pode deicha q eu vo usar uma camisa roxa e bunésinho pra tras!!
    hih

    te amo minha LINDA TÃO LINDA!!!<3

    ResponderExcluir
  2. muito grande, ngm vai le D: DAISHIDOASHDIOASHIAO'li as menos, tão foda,
    te amo minha escritora *-*'

    ResponderExcluir