segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Só saudade.

Desde as onze horas da manha estou aqui, sentada na varanda da casa da minha avó.
Sozinha.sem ninguém por perto. Apenas eu, minha sombra, o vento que sacode as arvores e aquela casa.
A casa pelo qual motivo eu passo a ficar sentada horas aqui, a três meses seguido. Ainda escuto sua voz. Gritando com a namorada no telefone. Foi a ultima vez. Ele não brigou mais com ela. Desde o dia 7 de fevereiro de 1978.
Ainda me lembro do sorriso,a onda de gargalhadas que eu escutava com freqüência, mas que ficou muda a três meses.
Meu foco é aquele lugar, aquela janela no segundo andar da casa branca desbotada. Posso ver ainda sua sombra, parado diante da janela olhando também sempre para frente.
Me encostei no pilar da escada. Tentando amenizar a dor que minha coluna gritava atravez do silencio, pois eu não me mexia, desde as onze horas da manha. De ontem. E hoje já são cinco horas da tarde.
Eu não consigo desviar meu olhar, meu avos já me levaram três vez para um internato. Mas la eu fazia a mesma coisa. Ficava sentada na beirada da cama, olhando a parede branca sem me mexer, encarando aquele crucifixo, descutindo comigo mesma. Eu não consegui ficar muito tempo lá.
Fugi as três vezes.
• • •
Eu vi. Juro que vi. Ninguém acreditava, mas eu vi. Seu corpo junto a janela tenso, olhando fixamente para mim. E depois, não vi nada.
Escuridão, somente escuridão, um pouco de frio, mas algo que eu suportasse. Eu fiquei assim três meses seguidos, sem ter necessidade de nada, não sabia nem aonde estava. Na varanda era obvio que não, alguém me ver desmaiada na varanda teria me socorrido. Mas eu estaria mesmo desmaiada? Eu ficaria mais quanto tempo cega pela escuridão?
Perguntas que nem o mais sábio podia responder, porque aquele que mais amamos se vão mais cedo afinal?
Eu sei, por um lado que a culpa foi minha, esse remorcio que me dominava era todo por apenas não ter dito que o amava, ter esperado ele morrer para mim poder ter coragem de dizer somente as palavras diante de seu tumulo.
Luz novamente. A luz do amanhecer inundou meus olhos fragilmente, pisquei até eles poderem se acostumar com a luz. Afinal, quanto tempo eu estivera na escuridão?
Ficar sentada sem saber o que fazer não mudaria minha vida, levantei-me sem exitar, ou pensar mais que uma vez, não mudaria minha vida uma morte proposital ou uma natural. Era morte igual. Morreria do mesmo jeito. Fui em direção a cozinha com passadas longas e rápidas. Vasculhei na terceira gaveta a faca que meu avo usava no churrasco. A mais afiada, a com a lamina mais brilhante.
Sai de casa e fui para a casa branca, não me importava agora se alguém me visse entrar lá, não mudaria minha vida, iriam me encontrar, somente..... sem vida.
Eu sabia que estaria me esperando lá, no segundo andar, perto da janela. Ao entrar no quarto, ver aquele perfil parado, de preto, completamente obscuro e imóvel, enfiei a faca no peito sem exitar. Mas não vi o que eu queria. Cadê a escuridão quando realmente a queremos?
Eu conseguia abrir os olhos, não senti nenhuma dor. Acordei e estava deitada no chão..
Perto da janela. E sim, ele estaria comigo. Os olhos azuis foi a primeira coisa que e foquei. A voz estava roca e grossa, seria e sem humor.
- eu sempre estive com você. Agora seremos eternos, mas... você não devia ter se matado, pois agora, eu lhe dei a morte, não a vida.
Ainda encarando os olhos, eu podia sentir meu coração batendo, olhei em direção em meu peito, eu tinha certeza de que tinha acertado o coração, não havia duvidas. Ele ainda batia... então... como?
- você quis a morte – disse ele me encarando com os olhos azuis. Eu não sangrava. Somente aquele buraco aberto em meu peito, e a camisa suja do sangue rápido que saiu.
Eu o olhei apavorada agora, meu olhos entrando em orbitas.
-  o que você fez comigo? Eu..eu...eu queria morrer, não viver.
Em uma fração de segundo o empurrei para traz e tentei ficar longe dele, mas não conseguia, algo me mantinha grudada aqueles olhos, eu não via mais parte nenhuma do seu rosto, ou do seu corpo. Estava escuro de mais. Apenas seu s olhos. Os olhos que eu pedira tanto pra ver e agora me davam medo. Sem perceber, ele me beijou. Um beijo pelo qual esperei durante 17 anos. Era preciso, rápido, mas ao mesmo tempo, suave e com amor. sem pressão. Deixei que meu movimento se ajustasse ao dele, e nossas línguas se enroscavam como duas cobras em uma briga mortal. Sem nenhuma pressa, sem nenhuma vontade de parar, ficamos abraçados o resto da eternidade.
Séculos assim, o resto da minha vida. Se isso ainda podia se chamar de vida.
Como ele mesmo dissera:
- eu lhe dei a morte. 

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